sábado, 20 de julho de 2013

O Silmarillion - 1

Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os
Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais
fosse criado.

Disse-lhes então Ilúvatar: - A partir do tema que lhes indiquei, desejo agora que criem juntos,
em harmonia, uma Música Magnífica. E, como eu os inspirei com a Chama Imperecível, vocês
vão demonstrar seus poderes ornamentando esse tema, cada um com seus próprios
pensamentos e recursos, se assim o desejar.

Enquanto o tema se desenvolvia, no entanto, surgiu no coração de
Melkor o impulso de entremear motivos da sua própria imaginação que não estavam em
harmonia com o tema de Ilúvatar; com isso procurava aumentar o poder e a glória do papel a
ele designado.

Espalhou-se então cada
vez mais a dissonância de Melkor, e as melodias que haviam sido ouvidas antes soçobraram
num mar de sons turbulentos.

Ergueu-se então Ilúvatar, e os Ainur perceberam que ele sorria E ele levantou a mão esquerda,
e um novo tema surgiu em meio à tormenta, semelhante ao tema anterior e ao mesmo tempo
diferente; e ganhava força e apresentava uma nova beleza.

E
afinal pareceu haver duas músicas evoluindo ao mesmo tempo diante do trono de Ilúvatar, e
elas eram totalmente díspares. Uma era profunda, vasta e bela, mas lenta e mesclada a uma
tristeza incomensurável, na qual sua beleza tivera principalmente origem. A outra havia agora
alcançado uma unidade própria; mas era alta, fútil e infindavelmente repetitiva; tinha pouca
harmonia, antes um som uníssono e clamoroso como o de muitas trombetas soando apenas
algumas notas.

Ele então levantou as duas mãos, e num acorde, mais profundo que o
Abismo, mais alto que o Firmamento, penetrante como a luz do olho de Ilúvatar, a Música
cessou.
Então, falou Ilúvatar e disse: - Poderosos são os Ainur, e o mais poderoso dentre eles é Melkor;
mas, para que ele saiba, e saibam todos os Ainur, que eu sou Ilúvatar, essas melodias que vocês
entoaram, irei mostrá-las para que vejam o que fizeram E tu, Melkor, verás que nenhum tema
pode ser tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a música
contra a minha vontade.

Entretanto, quando eles entraram no Vazio, Ilúvatar lhes disse: - Contemplem sua Música! - E
lhes mostrou uma visão, dando-lhes uma imagem onde antes havia somente o som E eles viram
um novo Mundo tomar-se visível aos seus olhos; e ele formava um globo no meio do Vazio, e
se mantinha ali, mas não pertencia ao Vazio, e enquanto contemplavam perplexos, esse Mundo

começou a desenrolar sua história, e a eles parecia que o Mundo tinha vida e crescia.


E assim foi
que, enquanto essa visão do Mundo lhes era apresentada, os Ainur viram que ela continha
coisas que eles não haviam imaginado. E, com admiração, viram a chegada dos Filhos de
Ilúvatar, e também a habitação que era preparada para eles. E perceberam que eles próprios, na
elaboração de sua música, estavam ocupados na construção dessa morada, sem saber, no

entanto, que ela tinha outro objetivo além da própria beleza.


Ora, os Filhos de Ilúvatar são elfos e os homens, os Primogênitos e os Sucessores. E em meio a
todos os esplendores do Mundo, seus vastos palácios e espaços e seus círculos de fogo, Ilúvatar
escolheu um local para habitarem nas Profundezas do Tempo e no meio das estrelas
incontáveis. E essa morada poderia parecer insignificante para quem leve em conta apenas a

majestade dos Ainur, e não sua terrível perspicácia;

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